Terra de piratas, nação sem lei, um dos lugares mais perigosos do mundo: a Somália tem sido chamada desta maneira há tempos e, hoje em dia, é um local com uma imagem assustadora perante boa parte da população do planeta.
E o país africano é, de fato, um território turbulento: vive uma situação de guerra civil há décadas, é base para o grupo terrorista islâmico Al-Shabab e seu litoral ficou célebre por abrigar piratas de verdade, que atacaram diversos navios no mar da região.
Trata-se, portanto, de um lugar que deveria ser evitado por estrangeiros, correto? Não é assim, porém, que pensa o espanhol Alvaro Rojas (@wanderreds), de 33 anos, que, neste ano, resolveu visitar a Somália.
“Gosto de visitar destinos considerados desafiadores. E, nestas viagens, faço questão de tentar mostrar o lado positivo de lugares que têm uma imagem negativa no mundo“, diz ele, cuja conta no Instagram é hoje seguida por mais de 210 mil pessoas.
E, no solo somali, Alvaro viveu e retratou os dois lados da moeda, atravessando áreas dilapidadas pela guerra e, também, explorando paisagens lindíssimas. Os momentos mais tensos da viagem ocorreram em Mogadíscio, centro urbano que, nas últimas décadas, teve boa parte de sua infraestrutura destruída por conflitos armados.
“Por ordem do governo local, tive que contratar um guia para me mover pela capital. Eles não me deixaram circular sozinho. É necessário ter alguém para cuidar de você“, conta o espanhol.
Além disso, Alvaro relata que, para fazer os passeios em Mogadíscio, tinha que entrar em um veículo onde também se fazia presente um segurança armado. Ele não viveu nenhuma situação real de perigo enquanto esteve por lá, mas sentiu uma atmosfera pesada no ar.
“Em Mogadíscio, você sente que está no meio de uma guerra, dentro de uma trincheira.”
E todo mundo na cidade parece estar sempre nervoso, em estado constante de alerta. Todo passeio tinha sua dose de tensão”, relembra, dizendo que, durante a viagem, ouviu relatos de atentados terroristas (provavelmente organizados pelo Al-Shabab) que haviam sido realizados recentemente contra civis na cidade.
“As ameaças que existem em Mogadíscio são diferentes das encontradas em outras cidades perigosas do mundo. Lá, ninguém quer roubar sua carteira. Mas você pode ser morto na explosão de uma bomba”, diz ele.
Para dormir, o espanhol se hospedou em um quarto de hotel extremamente básico, mas cujas diárias custaram cerca de US$ 200. “O preço foi caro porque o hotel é parecido com uma fortaleza. Pagamos este valor por causa da segurança oferecida pelo local”.
Praias e pinturas rupestres
Esta região da África, contudo, também tem um lado com potencial para encantar (e muito) um turista estrangeiro. E Alvaro teve a chance de curtir este lado positivo em sua viagem.
“A Somália tem um litoral gigantesco, com praias espetaculares, completamente inexploradas e banhadas por um mar azul-turquesa e cristalino“, conta.
“Visitamos um porto pesqueiro que chegou a ser usado como base para pirataria, mas que hoje está tranquilo.”
O espanhol também explorou a Somalilândia, região que declarou, de maneira unilateral, sua independência da Somália em 1991 — e que, apesar de hoje possuir governo próprio, não é reconhecida como Estado independente pela comunidade internacional (e muito menos pelo governo central sediado em Mogadíscio).
“A Somalilândia é uma região mais segura. E, nesta zona, visitei a cidade de Hargeisa, a cidade costeira de Berbera e paisagens montanhosas“. E nesta área, um dos atrativos que mais o encantaram foi o sítio arqueológico de Laas Geel, que abriga incríveis pinturas rupestres com milhares de anos.
Ao longo do caminho, o espanhol fez questão de tirar fotos ao lado de sorridentes nativos, mostrando que, mesmo vivendo em situações extremamente precárias, muitos somalis conseguem receber com afeto os estrangeiros que tomam a decisão de visitar sua terra.