[texto de Mariana Colombino]
O cancelamento da exposição “Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, em Porto Alegre, está alvoraçando o mundo das artes. A reação causada com as três obras mais polêmicas dos artistas Adriana Varejão, Fernando Baril e Bia Leite mostram que, ao invés de progredirmos, estamos regredindo.
A moda do politicamente correto está sufocando nossa habilidade de olhar, interpretar, compreender, contemplar e, acima de tudo, respeitar diferenças. É preto ou branco. Certo ou errado. De menino ou de menina. Mãe ou filha da puta.
Sabemos que o extremismo está por toda parte – na política, na educação, na alimentação, nas atividades físicas, na religião, na maternidade – mas, agora, também na arte? Estamos querendo controlar o inconsciente, a imaginação, a criação, o nosso poder de permitir externalizar os sentimentos mais obscuros da nossa existência (e que, não me venha com hipocrisia, fazem parte do corpo, alma e mente de qualquer indivíduo que respira) através da arte.
Estamos querendo impor nossa verdade absoluta, recorrentemente equivocada, na tentativa de estabelecer um padrão, quando, na verdade, estamos no século XXI e tudo o que não faz mais sentido é seguir o tal padrão.
Estamos tentando acabar com a arte, sendo que a beleza de viver reside, essencialmente, em transformar a própria existência em arte.