Quando vemos noticias de filme sobre pandemias e fim do mundo, é difícil não imaginar uma produção bem pós-apocalíptica, como Extermínio, Eu Sou a Lenda, A Estrada, entre outros do gênero. Steven Soderbergh e Wolfgang Petersen abordaram o tema de forma bem política em Contágio e Epidemia, respectivamente. O primeiro de forma mais sensata e próxima da realidade, o segundo mais hollywoodiano.

Sentidos do Amor, filme de 2011 estrelado por Ewan McGregor e Eva Green, se mostrou um dos mais realistas sobre pandemias. Agora baseando-se em fatos, já que o mundo está vivendo uma.

O filme, dirigido por David Mackenzie, fala sobre uma nova doença que faz com que a população perca, gradativamente, os sentidos humanos. A perda dos sentidos, ao longo do filme, é sempre relacionada com o despertar de um instinto humano exagerado. Por exemplo, as pessoas começam a ficar famintas, comem tudo o que veem pela frente e, logo após, perdem completamente o paladar. Em meio a este caos, uma epidemiologista e um chef se conhecem por acaso e se apaixonam. Em meio às perdas dos sentidos, eles lutam e desenvolvem novos tipos de prazeres para substituí-los.

Diferente de Contágio, Sentidos do Amor não foca na política da situação, mas sim, de como a população vai se adaptando a esta nova realidade. Esta adaptação é a maior identificação para com o filme. Sabemos que, pelo menos no Brasil, a pandemia da Covid-19 é um divisor de águas. Tudo o que fazíamos antes será repensado; não só para população, mas também os comércios, empresas, entretenimento.

Óbvio que, com maestria impecável de Mackenzie e uma falsa realidade de que a vida é bela, o diretor orquestra o filme para nos tornarmos otimistas. Mesmo sem olfato, você ainda está respirando, e isso é o suficiente para seguir a vida numa boa. Ele não está errado, mas sabemos que nem tudo são flores.

No decorrer do filme, assim como na vida real, as etapas são: a descoberta, a cautela da divulgação, o anuncio, o caos e a adaptação (e no filme, mais um pouco de caos). Como ainda esta novela está longe de acabar, as etapas param por aqui. E fica a nossa torcida e fé para que tudo acabe bem, pois igual antes, não será.

 

UM POUCO DO FILME

Se na época Sentidos do Amor era um filme para fazer refletir, nas atuais circunstâncias é mais ainda – e até assustador. Como você viveria sem seus sentidos? Como vivemos em um mundo pandêmico?

A química entre Ewan McGregor e Eva Green é perfeita. Ambos prendem a atenção com excelentes atuações de duas pessoas frias, que tem medo de relacionamentos e que ao mesmo tempo querem se entregar ao amor. A escolha da fotografia fria e acinzentada faz jus aos momentos vividos pelos personagens (ambos infelizes e insatisfeitos com suas vidas amorosas) e à personalidade dos mesmos.

Mesmo em meio ao caos da pandemia, Sentidos do Amor será um dos filmes mais belos que você já assistiu em toda sua vida.

[texto de 2013 e atualizado em 2020]