[texto – maio/2017]

Em meio às bombas políticas que ocorreram na semana passada, duas notícias deixaram o mundo da música bem abalado. Na quinta-feira (18), acordamos com a notícia de que o lendário Chris Cornell, do Soundgarden, Temple Of The Dog e Audioslave, havia morrido. No final da tarde de sexta-feira (19), chega a notícia de que o outro lendário Kid Vinil também passou dessa para melhor.

Uma rápida vírgula para experiências pessoais; me sinto privilegiado por ter assistido Cornell duas vezes: a primeira no SWU, onde esperava um show pesado com sua banda e, do nada, ele apareceu sozinho só com o violão – confesso que fiquei desconfiado no início – mas surpreendeu a todos e levou um show praticamente sozinho (com alguns poucos convidados) nas costas, e acabou se tornando um dos melhores shows daquele festival.

A segunda vez foi com o Soundgarden, em 2014, e que foi o principal motivo (junto com o Nine Inch Nails) de eu ter gastado uma bala com o ingresso. Cada centavo valeu a pena.

Quanto ao professor Kid Vinil, do Magazine (ou Verminose), já dancei muito ao som de sua discotecagem na Dj Club e pude assistir a um show dele no clássico Kazebre Rock Bar. Noite memorável.

Para muitos, pode ser apenas a perda de mais um famoso, mas para a história da música a relevância destas perdas é inimaginável. Primeiramente, falando de Kid e sua importância para o rock nacional, onde ele foi um dos maiores responsáveis por expandir os movimentos punk e pós-punk no país.

Comandou diversos programas que apresentavam bandas independentes ao cenário nacional, como o Boca Livre, Lado B, entre outros; era praticamente um Google de bandas alternativas naquela época, e emplacou nas rádios sucessos eternos, como “Tic Tic Nervoso” e “Sou Boy”, nos anos 80.

Já Cornell fez parte da época de ouro do grunge, onde dividia com Nirvana, Pearl Jam e Alice In Chains o trono de Seattle. Ainda nessa época se aventurou no Temple Of The Dog. Tornou-se ainda mais relevante quando, junto com os membros do Rage Against The Machine (exceto o vocalista Zack De La Rocha), formou o projeto Audioslave, no início dos anos 2000.

Um dos ápices da carreira do Audioslave foi o show gratuito realizado em Cuba, se tornando a primeira banda de rock americana a tocar no país. O show reuniu mais de 70 mil pessoas e rendeu um DVD ao vivo. A banda é uma das mais importantes dos últimos anos.

Kid Vinil e Chris Cornell são mais duas grandes referências da história da música que se vão e, por mais que pareça besteira, é bem assustador. Se parar pra pensar, de poucos anos pra cá perdemos David Bowie, George Michael, Lou Reed, Scott Weiland, Lemmy Kilmister, Prince, Chuck Berry, BB King, entre muitos outros. Analisando este cenário, vemos que nossas referências, nossos mestres muito em breve não estarão mais entre nós.

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A preocupação é em relação ao futuro. Abordei tema muito similar no texto “Quem Serão os Novos Dinossauros do Rock?”. Daqui a 40 anos, quem serão as referências para a garotada? Ou até mesmo daqui a 15 anos? Afinal, os heróis da música já estão nos seus 60, 70, 80 anos de idade. Será que daqui a 10 anos o Rolling Stones ainda existirá?

Quando cito a preocupação, não falo sobre a quantidade de bandas – qualidade, em termos – mas sim da força e do espaço que a música boa não tem hoje, do espaço que hoje é apenas na internet (mesmo que de extrema importância, ainda distante do ideal), do desinteresse do grande público em fugir do que as rádios bombardeiam em nossos ouvidos, do desinteresse do próprio artista em criar algo que difira do que já exista hoje, do interesse da divulgação.

Mesmo que muitos possam não concordar com o texto, o cenário da música está se tornando cada vez mais preocupante. Os artistas da atualidade terão a indústria fonográfica ao seu favor? Conseguirão substituir nossos heróis a altura? E o principal, qual será a relevância destes para a história da música?

Vale a reflexão!