Há 13 anos, para muitos, havia acabado uma das maiores bandas de rock do Brasil. Hoje, o Raimundos conseguiu provar de uma vez por todas que estão mais vivos do que nunca. E digo “de uma vez por todas” porque para os que acompanham, o Raimundos permanece vivo desde que o Digão anunciou que seria o novo vocalista.

Após 20 anos do lançamento do disco de estreia e 12 anos do último álbum de estúdio, o Raimundos lança o seu mais novo disco de estúdio, Cantigas de Roda. Primeiro o download online e posteriormente o CD físico (ambos para os que aderiram ao crowdfunding). E para alegria, não só dos fãs, mas de todos os amantes do rock, o disco está perfeito. O Cantigas de Roda mostra uma sonoridade que há tempos estava ausente no cenário nacional, misturando HC da melhor qualidade, rock pesado, ska, punk rock e forrócore, gênero que consagrou a banda no início da carreira.

Capa

E para falar desta nova e maravilhosa fase da banda, o blog Artescétera realizou esta entrevista exclusiva com o baixista Canisso. E apenas para frisar, gostaria de deixar claro que esta é uma das minhas maiores honras, pois todos que me conhecem, sabem o quão fã eu sou da banda há mais de 17 anos. Confira abaixo:

1. Vocês gravaram o Cantigas de Roda no EUA, com produção do Billy Graziadei (Biohazard). Como surgiu a ideia de vocês gravarem o disco lá e não aqui? E como o Graziadei entrou na história?

Canisso – Quando terminamos as demos que formariam o disco, ouvimos um mix da banda do nosso amigo Binho Nunes, Beef Killers, produzido pelo Billy e a produção dele deu um forte upgrade no som da banda. Através do Binho fizemos o convite, gravamos no estudio dele por chegarmos à conclusão que seria o lugar onde ele iria tirar o seu melhor, por estar acostumado a trabalhar lá. Talvez pra alcançar a qualidade técnica disponível naquela situação ideal aqui no Brasil teríamos que gastar muito mais, sem a garantia de alcançar o mesmo resultado. 

Raimundos 1

2. Se o disco não fosse produzido por ele (Billy), já tinham um plano B para a gravação do disco, ou iriam esperar surgir uma futura oportunidade para gravar?

Canisso – Na verdade não havia plano B…acho que gravaríamos de forma caseira e depois iríamos mixar em algum estúdio de amigos, o melhor foi que demos muita atenção na gravação das demos, então estávamos prontos pra resolver tudo em casa. Claro que o resultado ia ser um pouco diferente…

3. O Cantigas de Roda é um disco bem com a cara do Raimundos. No processo de criação das músicas, houve influências de fora (outras bandas)?

Canisso – Não, esse disco é um disco típico do Raimundos. A única influência que me arrisco à apontar é a do nosso guru eterno, o sanfoneiro Zenílton…

4. A música Dubmundos teve a participação especial do Sen Dog (Cypress Hill), Stu Ranier (Urban Classics), Ulises Bella e Sheffer Bruton (Ozomatli). A música já existia ou vocês criaram a música em estúdio já pensando nestas participações?

Canisso – Essa música foi a última a ser feita, era só um esqueleto. Eu vejo aí a grande contribuição do Billy, transformou o esqueleto numa das melhores músicas do disco. As participações surgiram naturalmente, nada foi pensado, programado…

5. Antes de lançar o disco, vocês lançaram o clipe de Politics, aproveitando o momento das manifestações no Brasil. Agora que o disco foi lançado oficialmente, qual será a nova música de trabalho e se vão fazer clipe para lançar na mídia?

Canisso – Provavelmente será “Baculejo”, mas “Bop” já está tocando nas rádios. Com certeza merecem clipe, ambas!!!

*OBS (O clipe da música Baculejo foi lançado após esta entrevista e está disponível para assistir ao final da página)

6. Quais músicas do Cantigas de Roda vocês consideram presença garantida nos shows e por que?

Canisso – Queremos tocar TODAS, mas num primeiro momento “Rafael”, “Baculejo” e “Descendo na Banguela” já estão mais “na mão”.

7. A agenda da banda está cada dia mais lotada com shows por todo o Brasil. Estão com planos ou receberam convites pra tocar fora do país?

Canisso – Sim, claro!! Pelo menos até o Uruguay é garantido, temos bons amigos lá.

8. Vocês chegaram a cogitar fazer uma mini turnê com o Biohazard?

Canisso – Sim, existe grande chance!!!

Raimundos 2

9. Em relação à músicas novas, vocês já esgotaram o estoque no Cantigas de Roda, ou guardaram algumas para um próximo disco?

Canisso – No paredão final algumas ficaram de fora. Quem sabe?

10. A receptividade do público em relação ao crowdfunding foi maravilhosa. Vocês pensam em repetir a dose ou no próximo disco pretendem lançar da maneira convencional?

Canisso – Vamos ver como o momento vai se apresentar. Fiquei bastante satisfeito com o resultado e eu faria de novo sem pestanejar.

11. O Cantigas de Roda foi gravado de maneira totalmente independente e o resultado foi excepcional. Vocês já receberam propostas de gravadoras?

Canisso – Sim, é inevitável, mas as propostas não oferecem nada que não tenhamos conquistado sozinhos, ao contrário, todas querem dar aquela “mordida” no resultado do nosso trabalho e sem garantia de que vão alcançar algum resultado melhor do que já temos obtido.

12. Hoje o cenário musical mudou muito em relação ao que era antes, e muito disso é culpa das gravadoras, por querer sempre moldar o artista e vender mais. Qual o pensamento de vocês sobre o cenário rock’ n roll atual no Brasil e também da atitude das gravadoras?

Canisso – Quando o artista se torna refém das diretrizes de uma gravadora que só visa o lucro, ele perde o controle da sua liberdade artística, ele se torna um mero produto. É o começo do fim. Com a crise das gravadoras por causa da pirataria o mercado fonográfico passou a investir somente em produtos com rentabilidade assegurada, a arte foi deixada em segundo plano e o mainstream enfraqueceu. O Rock, por vir do underground, sobrevive à margem disso tudo e ao contrário do que se imagina, se fortalece… somos a prova viva disso.

13- O Artescétera é um blog que defende e divulga todos os tipos de arte (música, cinema, fotografia, artes plásticas, etc). Para finalizar a entrevista, gostaria que vocês deixassem uma mensagem para os leitores do blog, defendendo o porquê a arte é tão importante (qual a diferença que ela faz) na vida das pessoas.

Canisso – Um grande abraço pra todos que acompanham o site. Como vocês, vivo diariamente o desafio de viver da minha arte, de divulgar nosso trabalho e lutar com unhas e dentes pela manutenção de um cena relevante, onde o sucesso seja fruto do talento e do esforço e não do poder econômico…a sua luta é a MINHA luta…abraços!!! 

Espero que tenham gostado da entrevista tanto quanto eu. Não deixe de seguir o Artescétera nas redes sociais Facebook, TwitterInstagram e assine o nosso canal no Youtube clicando aqui. E como prometido, segue abaixo o clipe da música Baculejo.