O final de semana foi bem agitado para os paulistanos amantes da música. Afinal, foram dois dias do festival que se tornou um dos mais esperados do ano, o Lollapalooza. Esta foi a terceira edição do festival no país, e, parando para analisar as bandas (tanto quanto na quantidade, diversidade de gêneros e qualidade), foi a melhor de todas.
Compareci nos dois dias no autódromo de Interlagos, infelizmente, não conseguindo assistir todos os shows que gostaria, mas suficiente para ter um panorama do festival. É inegável que a grande maioria compareceu para ver a nova safra do alternativo indie rock, como Imagine Dragons, Phoenix, Arcade Fire, Muse e afins, onde praticamente não se via a grama devido a imensidão de gente. O que ainda encanta nos festivais são aquelas bandas não tão conhecidas, que poucos param para apreciar pelo fato de não conhecerem e também pela indiferença do público em descobrir algo novo que não seja pela internet. E o Lollapalooza acertou em cheio nestas “surpresas”.
Outro fator favorável foi a escolha do local. Mas por que se o Autódromo de Interlagos é tão longe? Vamos aos motivos: primeiro que quando se fala em locomoção em São Paulo, todos pensam diretamente no metrô, mas se esquecem dos trens e ônibus. E é extremamente fácil chegar lá via trem e ônibus. Segundo motivo foi a maneira que os organizadores exploraram o local para distribuição dos palcos e tendas. O espaço para explorar o festival foi sensacional e os palcos foram estrategicamente montados em locais com inclinação, portanto, quem estava no fundo, conseguia ver os shows sem cabeças na sua frente. Confesso que era distante de um palco pro outro. Para as próximas edições (caso ocorram no autódromo), é válido considerar ao menos um intervalo de 15 minutos entre as atrações, e não de 5.
Agora vamos ao que interessa e vamos falar dos concertos em si. Começando pelo dia 5 (sábado), o primeiro palco avistado foi o Interlagos com uma das “surpresas” citadas acima que eu não conhecia e, particularmente, achei sensacional. A banda mexicana Café Tacvba estava na metade de um show enérgico, porém com público tímido. Mas mesmo tímido, era clara a vibração dos presentes pulando em todas as músicas junto com o quinteto. Ouçam a banda que vale muito a pena.
Saindo do palco Interlagos, fui explorar o grande local e logo depois começou o show do Julian Casablancas (vocalista do Strokes), no qual, mesmo não tendo nada contra, vi apenas umas três musicas e segui caminho. Mas ao menos, aparentou ser bom.
Depois de procurar por muito tempo, finalmente encontrei o palco do chefe, o Perry. Para os que não sabem, o Perry Farrel, vocalista do Jane’s Addction, é o fundador do Lollapalooza, e a tenda homônima, é voltada para a musica eletrônica. O DJ Flux Pavilion agitou de maneira monstruosa o público presente, mandando um black eletrônico bem pesado e alto, com pitadas de drumbass. Teve até roda no meio da galera. Boa opção para ver ao vivo.
Após sair da tenda eletrônica, fui rumo ao show que criei enormes expectativas e elas foram mais do que superadas, ainda mais por ter conseguido ficar tão perto do palco. O Nine Inch Nails foi de longe o melhor show do sábado (se não dos dois dias). Primeiro que eles já começaram com a voadora no peito, mandando Wish de cara pra agitar todos os presentes, e emendaram logo na sequência a outra porrada Letting You. O Nine Inch Nails mostrou o porque foi uma das bandas mais aclamadas dos anos 90, mostrando sua versatilidade dentro do gênero industrial. Para fechar com chave de diamante, eles mandaram a trinca The Hand That Feeds, Head Like a Hole e a clássica Hurt, também conhecida pela regravação do mestre Johnny Cash. Logicamente faltou Closer, e pra mim, The Perfect Drug. E como não fazia questão de ver o Muse, o primeiro dia encerrou ai.
Após uma boa e dolorida noite de sono, volto no domingo por volta das 16h. Infelizmente, pois gostaria de ter chegado bem cedo. E novamente, o primeiro palco avistado foi o Interlagos com mais uma excelente “surpresa”, a banda inglêsa feminina Savages. Uma banda que já está nos planos para ouvir muito, já que a curiosidade veio com a sonoridade alternativa pesada que lembrou muito o Sonic Youth e o timbre da vocalista muito próximo ao da Siouxie and The Banshees. Banda sensacional que vale a pena perder (ou ganhar) tempo escutando.
Depois do Savages, mais uma volta rápida para conseguir voltar a tempo no mesmo palco para ver uma das minhas bandas favoritas na adolescência, o AFI. Para os que não conhecem, o A Fire Inside é uma banda de punk rock/hardcore formada no inicio dos anos 90, que no passar dos anos, foi deixando o som mais melódico mantendo o vocal gritado e pesado. No Lollapalooza, o AFI dedicou o show às faixas mais novas, mas ainda assim, mostrando energia impar do começo ao fim com o visual sombrio característico da banda. Excelente pedida para um momento ingrato, já que “disputou” o horário com o Pixies.
E falando do Pixies, como já tinha visto antes, vi apenas algumas musicas sentado lá de cima tomando uma cerveja e curtindo o som impecável do quarteto. Mas a minha “curtição” do Pixies durou pouco tempo, já que em poucos minutos o Soundgarden estava prestes a subir no palco, e esse, eu fiz questão de ver do início ao fim. Pontualmente às 18h55, uma das bandas mais clássicas de Seattle subia ao palco mandando uma chuva de clássicos do começo ao fim do show. O público pirou com Spoonman, Black Hole Sun, Outshined, The Day I Tried to Live, entre outras. Os pontos altos do show foram Jesus Christ Pose (especialmente dedicada aos fãs brasileiros) e Rusty Cage. Um espetáculo memorável que, logicamente, para os que gostam da banda ha bastante tempo, só faltou mais agitação do Chris Cornell, mas a gente entende que a idade chega.
E para finalizar o Lollapalooza de maneira excepcional, outro show memorável. Não, não foi do Arcade Fire, mas sim, do New Order. Não consegui ver o começo, mas logo que cheguei, me deparei com a dobradinha perfeita, com Ceremony e Age of Consent. Já valeu praticamente o show inteiro. E não parou por ai. Diversos clássicos botaram o público pra dançar, como Bizarre Love Triangle, True Faith, Blue Monday, Temptation, entre outros. E para surpresa de todos, o New Order fez um bis após o término previsto do show, com os clássicos do Joy Division, Atmosphere e a sempre ovacionada Love Will Tears Us Apart, botando todo o público pra dançar e cantar nostalgicamente com fogos de artifícios ao fundo do palco.
E voltando ao motivo desta ter sido a melhor edição, pelo menos para mim, foi pela diversidade dos artistas presentes no festival. Foi lindo ver este mix bandas dos mais variados gêneros, das mais diferentes épocas e de diversas nacionalidades juntos no mesmo espaço divertindo também o variado público. E que o próximo seja ainda melhor.