De um modo geral, quando uma criança é protagonista de um filme cujo cartaz é todo colorido e bonitinho, entende-se que se trata de uma comédia infantil ou um drama daqueles bem mamão com açúcar. Mas quando se trata de cineastas que pensam mais além do que o cinema convencional, temos um resultado chocante e surpreendente. Hoje o Filme Estranho Pra Gente Esquisita vai falar da produção franco italiana Incompreendida.
Dirigido pela linda Asia Argento, filha do mestre do giallo Dario Argento, Incompreendida se passa no inicio dos anos 80 e narra a história de Aria, filha mais nova de um casal de famosos – o pai, um supersticioso ator, e a mãe, uma pianista que está sempre se envolvendo e iludindo muitos homens – que vive um relacionamento conturbado acabando por se separar. Enfrenta também o desprezo e a ausência de amor dos pais, que preferem as irmãs mais velhas, Lucrezia e Donatina. Buscando ser amada e compreendida, Aria intercala ficando na casa da mãe e do pai, mas sempre por conta da maldade das irmãs e de injustiças do destino, sempre acaba sendo expulsa de ambas as casas e vagando pelas ruas acompanhada pelo seu gato preto, Dac.
Analisando a sinopse, o pensamento é de um drama choroso que já estamos acostumados a ver por aí, mas o que a diretora nos entrega é um filme forte com apelos à droga e sexo, mas ao mesmo tempo bonitinho e sutil como um filme infantil, aquele que você torce para o protagonista “vencer”. E são nestes contrastes que o filme se destaca.
Logo no começo este contraste já é explorado, dos créditos iniciais que mostram desenhos bonitinhos com a narração fofinha e sonhadora da protagonista, partindo para cena do jantar da família, onde uma briga acontece e Aria é agredida pela mãe. Não demora muito para o divórcio acontecer e a triste jornada da garota começar.
Ao tentar passar alguns dias na nova casa do pai, a garota é expulsa por conta do seu gato. Ao tentar voltar pra casa da mãe é expulsa novamente porque a mãe está ocupada com mais um de seus amantes. Vagando pela cidade, Aria é acolhida por um grupo de punks, onde ela se diverte numa festa da rua regada a bebidas e drogas. Em certo momento desconfia-se de um ar de pedofilia no filme, porém, muito (ou nem tanto) sutil.
A única alegria da vida da garota, por ora, é sua amiga da escola Angélica, no qual ambas querem sempre ser iguais e fazem tudo juntas; até se chamam pelo mesmo nome. Mas até na escola Aria é tida como desconjuntada e sofre por não conseguir se aproximar de Adriano, garoto skatista por qual se apaixona e não é correspondida.
Dentre os muitos acertos do filme, destaca-se a fotografia, que apela para o colorido do infantil e que remete diretamente aos anos 80, a trilha sonora, que vai desde o punk rock e músicas agitadas a canções regionais, a escolha da mãe da garota, interpretada por uma das melhores atrizes da atualidade (na humilde opinião deste que vos esreve), Charlotte Gainsbourg, e principalmente a atriz principal, interpretada competentemente pela atriz mirim Giulia Salerno.
O final vai fazer você se perguntar “será que aconteceu isso mesmo?”
O filme peca por alguns momentos tapa-buracos, que acabam por não dizer muito e o espectador se pergunta se determinada cena era mesmo necessária, mas nada que tire a qualidade e a essência. Por fim, Incompreendida é aquele filme que te deixa bem e mal ao mesmo tempo, bem por acreditar a seguir os seus sonhos e mal pois nem sempre seus sonhos serão realizados.
Confira o trailer abaixo e não deixe de acompanhar o Artescétera nas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram e assine o nosso canal no Youtube clicando aqui.