Impressão

Hoje, a infância da garotada é, com certeza, muito diferente do que era há uns 20 anos atrás.

Antes a molecada ainda saia na rua, brincava de esconde-esconde, jogava bola, pega-pega, queimada e muitas outras brincadeiras que faziam as crianças interagirem entre si. Hoje a infância é basicamente resumida a telas: telas do smartphone, vídeo games, computadores, tablets, etc.

Apesar desta brusca diferença entre as gerações, existe uma paixão em comum que vêm percorrendo gerações e que está longe de se tornar esquecida.

Criada nos anos 60, a Turma da Mônica ainda é sucesso de vendas e unanimidade entre as crianças, independente da geração.

A revista já passou (e ainda passa) por algumas “modificações” para poder conversar com a garotada de acordo com a época, mas nunca deixou de perder a essência. E para falar sobre a turminha mais famosa do Brasil, realizamos uma entrevista mais do que exclusiva com o responsável por tudo isso, Mauricio de Sousa.

O Artescétera gostaria de agradecer imensamente ao Mauricio, que é referência mundial no quesito quadrinhos e que é uma honra a oportunidade de poder entrevista-lo.

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Artescétera: As revistas da Turma da Mônica existem há muitos anos e até hoje são sucesso entre a garotada, ainda mais se tratando de um cenário onde crianças já possuem acesso a internet, jogos online, etc. Qual o segredo desta longevidade que já passou por diversas gerações?

Mauricio de Sousa: Criança é sempre criança. Pode ser em países diferentes ou em épocas diferentes. Gosta de descobrir e de brincar. Basta contar histórias em que elas se identifiquem e as façam rir. Claro que sempre estamos buscando a linguagem do dia e da vez para acompanhar seu modo de comunicação. Quanto ao sucesso, ninguém planeja sucesso. Planeja fazer um serviço bem feito, que se mantiver, vira sucesso.

 

Artescétera: A Turma da Mônica Jovem surgiu em 2008 e lida com uma fase da vida um pouco mais complicada que a infância; a adolescência, onde temas como sexo, bebidas, drogas e baladas são comuns no vocabulário de muitos jovens. Estes temas acabam se tornando obstáculos para escrever as histórias ou você acaba “aproveitando” para passar alguma mensagem?

Mauricio de Sousa: Embora a nova revista seja para um público jovem, também criou uma curiosidade das crianças menores resultando no maior sucesso de bancas dos últimos 30 anos. Por isso é preciso um cuidado nos temas, mesmo sendo uma revista para um público adolescente. Quando entra um tema mais para o adolescente tem que ser como se fosse uma conversa de pai para filho. Suave e sincero.

 

Artescétera: Por que a escolha do Mangá para a Turma da Mônica Jovem e não os famosos e tradicionais traços que virou sua marca registrada?

Mauricio de Sousa: Era uma ideia antiga que foi reavivada pela nossa participação nas comemorações dos 100 anos de imigração japonesa em 2008. Criamos os mascotes Tikara e Keika para a Comissão de Organização das Comemorações. Unimos, então, o estilo “mangá” (quadrinho Japonês) com nosso estilo para que atingíssemos os jovens em pré-adolescência que estavam deixando de ler Turma da Mônica para a linguagem da época que é o mangá.

Foto Mauricio na mesa de desenho

Artescétera: Eu comprei um tempo atrás umas edições especiais que vinham com gibis bem antigos, dos anos 80 e, entre as histórias, há comentários e comparações de situações que antes eram presentes nas revistas e hoje não são mais. Exemplo: o Cascão está numa loja de armários e faz xixi dentro dele e, nos comentários, diz que hoje uma situação dessa não seria publicada. Qual foi o (ou os) motivo destas mudanças? Você acha que as crianças de hoje encarariam de outra forma estas situações?

Mauricio de Sousa: Bem no caso dos hábitos, de não grafitar, e outros cuidados, são normais. São coisas que a gente está se habituando a realizar, absorvendo estes hábitos que a sociedade discute na atualidade.

 

Artescétera: Algo que sempre gostei nas histórias são alguns assuntos que não são de entendimento da maioria das crianças (principalmente as mais novas), como por exemplo, as histórias do Papa-Capim, que sempre fizeram uma menção negativa à invasão do homem branco nas florestas, ou até mesmo a diferença de classe social entre o Chico Bento e o Genésinho (filho do “Coroner”).   Mesmo que parte do público (da revista) não entenda, por que você acha importante abordar temas tão sérios e “adultos” como estes (e entre outros)?

Mauricio de Sousa: Nossa primeira norma é criar histórias divertidas para o lazer das crianças e jovens. Junto à isso é claro que procuramos passar informações importantes sobre cidadania, saúde, ecologia e solidariedade. Temos responsabilidades como produtores culturais. Sabemos que somos responsáveis por grande parte na alfabetização das crianças brasileiras. E isso só funciona porque as histórias são divertidas para agradar á esse público exigente.

Mauricio de Sousa 099

Artescétera: O Artescétera é um blog que defende e divulga todos os tipos de arte (música, cinema, fotografia, artes plásticas, etc). Para finalizar a entrevista, gostaria que você deixasse uma mensagem para os leitores do blog, defendendo o porquê a arte é tão importante (qual a diferença que ela faz) na vida das pessoas.

Mauricio de Sousa: A arte é a forma que encontramos para nos sentirmos livres e criativos. Portanto necessária para a evolução do pensamento humano. Ajuda a discutir o que somos e o que queremos. Parabéns ao Artescétera por ajudar nesse processo valorizando esse ato de vida.