A economia criativa perdeu 458 mil postos de trabalho, formais e informais, entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto de 2020, devido aos impactos da pandemia da Covid-19. De outubro a dezembro de 2019, havia 7.137.912 indivíduos trabalhando no segmento. Nos mesmos três últimos meses do ano seguinte, o número havia caído para 6.679.994, uma retração de 6,4%.

Essa perda só não foi maior porque no último trimestre de 2020 houve um aumento próximo a 115 mil trabalhadores em Tecnologia da Informação, um crescimento de 24% em relação a igual período do ano anterior. Isso se explica devido às restrições de circulação trazidas pela pandemia, que aumentaram a demanda e deram relevância aos serviços e plataformas online adotados por segmentos diversos da população.

 

O TRABALHADOR CRIATIVO

A definição de trabalhador criativo, que norteia o levantamento do Observatório Itaú Cultural, se baseia no modelo de intensidade criativa de Hasan Bakhshi, Alan Freeman e Peter Higgs, calcado em cinco conceitos.

Tem esse perfil aquele que atende a pelos menos quatro desses critérios:

  • capacidade de resolver problemas ou atingir objetivos de maneira inovadora, com o emprego claro e frequente da criatividade;
  • a sua tarefa não tem como ser realizada por máquinas;
  • não repete nem uniformiza uma função, de modo a que o impacto no processo produtivo seja diferente a cada vez que atua, a depender do contexto da tarefa e das capacidades cognitivas por ela acionadas
  • a contribuição criativa desse trabalhador à cadeia de valor, atuando em qualquer setor que traz inovação e/ou criações
  • a interpretação, não mera transformação do trabalho.

 

Trabalhadores da Economia Criativa (1) Comparativo 4º trimestre 2019–2020

(1) Os Trabalhadores da Economia Criativa foram definidos a partir das ocupações criativas. Estes englobam três tipos de trabalhadores de acordo com a participação que têm nos setores criativos e nos setores não criativos.

Desse modo, temos as seguintes possibilidades: os especializados, ou seja, trabalhadores criativos que são empregados nos setores criativos; os de apoio, trabalhadores que atuam nos setores criativos, mas têm ocupações que não são consideradas criativas; e os incorporados, trabalhadores que são criativos, mas que atuam em outros setores da economia.

* Trabalhadores Especializados-Cultura: Atividades Artesanais, Artes Cênicas e Artes Visuais, Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV e Museus e Patrimônio.

** Trabalhadores Especializados-Criativos: Publicidade, Arquitetura, Moda, Design, Tecnologia da Informação e Editorial.

Saiba mais em https://www.itaucultural.org.br/observatorio/paineldedados/pesquisa/trabalhadores-da-economia-criativa

 

 

Formais x informais

A queda no número de postos de trabalho afetou mais fortemente os trabalhadores informais, que são aqueles que atuam sem carteira assinada e profissionais empregadores ou por conta-própria sem cadastro formal de CNPJ. Teve menos impacto entre os trabalhadores formais, ou seja, os que possuem carteira assinada, servidores públicos e profissionais empregadores ou conta-própria com cadastro formal de CNPJ.

No caso dos informais, havia 2.838.385 postos de trabalho na economia criativa no 4º trimestre de 2019. O número caiu para 2.525.900 postos no 4º trimestre de 2020, consolidando queda de 11%.

 

Trabalhadores Informais da Economia Criativa – Comparativo 4º trimestre 2019–2020

Entre os trabalhadores formais, uma das razões para a retração ter sido menor é a criação de políticas de proteção ao emprego implementadas durante a pandemia, que permitiram a diminuição de carga horária e a suspensão temporária de contratos de trabalho, protegendo os trabalhadores celetistas de possível desligamento. Segundo dados da Pnad Contínua, no 4º trimestre de 2019 eram 4.299.526 postos de trabalho formais na economia criativa. No mesmo período em 2020, foram 4.154.094, uma retração de 3,4%.

“Cada vez mais, a sociedade, as empresas e o Estado precisam observar a economia criativa como um exercício permanente para o desenvolvimento econômico do país”, analisa Saron.

 

Trabalhadores Formais da Economia Criativa – Comparativo 4º trimestre 2019–2020

Os segmentos que mais conseguiram recuperar seus níveis de emprego entre o 4º trimestre de 2019 e o de 2020 foram os de trabalhadores especializados formais (trabalhadores criativos de todas as categorias – culturais e demais categorias criativas – que atuam nos setores criativos) e o de trabalhadores incorporados formais e especializados informais. Os trabalhadores de apoio informais, após expressiva queda nos dois primeiros trimestres de 2020, ainda mostram dificuldades para recuperação.

Por sua vez, os trabalhadores criativos especializados formais conseguiram ultrapassar o seu nível de emprego do final de 2019, com saldo positivo na faixa de 49,5 mil empregos. Esse aumento possivelmente foi puxado pelos trabalhadores especializados da área de Tecnologia da Informação, que – conforme mencionado – obtiveram crescimentos expressivos no período.

O movimento de recuperação do emprego dos trabalhadores incorporados formais – que chegou perto de seu patamar anterior à pandemia, embora ainda não o tenha atingido – demonstra a importância dos trabalhadores criativos para os demais setores da economia.

Após a queda no 2º trimestre de 2020, os 3º e 4º trimestres mostram que o setor formal não criativo voltou a contratar esses profissionais para contribuir em seus setores. Estima-se que essa retomada nos trabalhadores criativos incorporados também esteja ligada principalmente aos trabalhadores de ocupações ligadas à Tecnologia da Informação.

 

Trabalhadores Formais e Informais da Economia Criativa – Evolução 2019–2020

 

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