[texto de Mariana Colombino]
Quantos gênios já habitaram a Terra e sucumbiram após enfrentarem tanta dor, sofrimento e incompreensão?
Na lista da maldição dos 27 anos, temos Janis Joplin, Kurt Cobain, Jim Morrison, Jimi Hendrix e Amy Winehouse.
Mas os exemplos não se limitam à idade.
Na arte, temos nomes como Chris Cornell, Robin Williams, Marilyn Monroe, Heath Ledger… Sem contar os que viviam a vida de maneira alucinada, que agiam como suicidas e, no fim, acabaram sendo levados por doenças bem antes do programado, como Renato Russo, Cazuza, Freddie Mercury…
Viver é para os fortes (ou dementes) e não sabemos isso de hoje.
Gênios, e aqui não me limito à área da arte, enxergam o mundo com muito mais pesar, empatia e sofrimento, pois não encaram a vida como um grande shopping center, mas sim como uma oportunidade de deixar um legado construtivo para seus sucessores. Nos casos citados acima, talvez não fosse fraqueza (nem demência), mas desilusão por viver em um mundo tão diferente daquilo que se acredita. Por ser a favor da coletividade, quando só se pratica o egoísmo. Por querer tentar o diferente, quando todo mundo só acredita na mesma coisa.
Vincent Van Gogh, pintor holandês que dispensa apresentações, era mais um exemplo de mente incompreendida e taxada de louca, que via e sentia bem mais que as pessoas normais imersas em suas vidinhas medíocres.
Van Gogh viveu 37 primaveras sofridas na Terra, presenciando mais dor que alegrias. Mais perdas que ganhos. Mais julgamentos que compreensões. Sua história como pintor tem grande expressividade em seus últimos 6 anos de vida, quando se mudou para Arles e Auvers, ambos na França, e é em Auvers que a história de “Com Amor, Van Gogh” acontece.
O filme, com duração aproximada de 1h30, é uma obra de arte que fala sobre seu criador. O longa demorou 6 anos para ficar pronto e reuniu mais de 100 artistas para pintar telas com a mesma técnica de Van Gogh. No total, foram 65.000 frames animados para dar vida à história, que é contada logo após a morte do pintor.
Com Amor, Van Gogh é um suspense com ritmo bem diferente do que os espectadores hollywoodianos estão acostumados. Ele é lento, tanto em narrativa quanto em movimento e, talvez por isso, arranque bocejos do grande público. Mas é lindo, delicado, envolvente, real e merece ser visto com todo amor e atenção.
Ao final de 1h30, aumentamos nosso repertório, tanto visual quanto histórico, e nos despertamos para os impasses de escolher seguir o caminho da consciência.
Se a ignorância é uma benção, Van Gogh passou bem longe dela e também não saiu ileso.