No dia 18/9/2013 eu tive o privilégio de ter uma das maiores aulas de música que uma pessoa pode ter. E ela mostrou o que poucos artistas (principalmente os atuais) não possuem, que é o amor a profissão e não só ao cachê que recebem para tocar. E este amor fez com que um simpático “idoso” de 63 anos agisse como um rapaz de 20, em um espetáculo de quase 3h30 de duração, com 29 músicas cantadas, sem praticamente perder o fôlego em nenhuma delas, e com um verdadeiro sorriso do primeiro ao último segundo do show. Esta aula foi ministrada simplesmente pelo mestre, pela lenda, pelo professor, pelo The Boss, Bruce Springsteen.
Springsteen fez apenas dois shows no Brasil: em São Paulo, no dia 18, e fechou a penúltima noite do Rock In Rio, no dia 21/9. O show do Rock In Rio foi mais curto (acredito que pela organização do festival), mas não menos histórico. A única ressalva para o show do Rio, no qual eu vi pela TV, é que muitas pessoas foram ao festival apenas para assistir o “famoso” (??????) John Mayer, e na hora do show do Bruce, muitos foram embora. Só lamentos. Mas vou falar do que presenciei pessoalmente em São Paulo.
Por volta das 21h10, Bruce entra no palco acompanhada com a sua fiel escudeira The E Street Band, e, para surpresa e euforia de todos, começa o show com um cover inusitado de Raul Seixas (abertura repetida no Rock In Rio); Sociedade Alternativa (muito bem cantada, por sinal) e já emendou We Take Care Of Our Own, do seu último e elogiado disco Wrecking Ball. Após as duas primeiras músicas, o show foi recheado de clássicos de todas as fases de sua carreira, como No Surrender, Bobby Jean, Hungry Heart entre muitas outras. O destaque ficou com a sequência Born In The USA, Born To Run e Dancing In The Dark. Outro ponto forte da noite, foram alguns covers de clássicos do soul americano, como This Little Light of Mine e a animadíssima Shout, do The Isley Brothers. O mega-sucesso Glory Days não foi tocado em São Paulo, mas com certeza, o público perdoou o Boss.
Muitos artistas já foram criticados por passar a maioria do show fazendo piadas e interagindo com o público ao invés de tocar. Springsteen conseguiu (e de maneira muito competente) fazer as duas coisas sem cansar a platéia. The Boss interagiu com o público, durante quase todo o show, sem deixar a música parar. E teve todo tipo de interação: beijo em senhorinhas que estavam na primeira fila, foi até a separação da pista comum com a pista VIP para agraciar os presentes, atendeu o pedido de um noivo para pedir sua noiva em casamento no palco, pegou no colo uma garotinha de aproximadamente 10 anos e a fez cantar o refrão de Waiting On a Sunny Day, tomou um copo de cerveja em um gole só, chamou a platéia para dançar Dancing In The Dark no palco junto com ele e, por fim, quando Spirit Of The Night estava sendo tocada, foi carregado pelo público até o palco.
O show foi finalizado com apenas Springsteen no palco, tocando This Hard Land, logo após prometer ao público que os verá em breve e, também, após pedir desculpas por ficar tanto tempo sem vir ao Brasil (passaram 25 anos, desde a última vez em 1988).
Como falei no início, o show foi uma aula de música e de vida. Bruce não parou de sorrir um minuto sequer e sua voz continua irreparável. Em certo momento, cantou para o público com a voz a la Brian Johnson (AC/DC), “Can you feel the spirit?“ e o público respondia ovacionando o “Chefe”.
Para os que foram aos shows no Brasil, considerem-se sortudos, pois foi uma experiência única na vida e, com certeza, daqui a muitos anos, esta noite ainda estará no coração e na memória. Para os que não foram, torçam para ele não demorar a voltar, porque, com certeza, é um dos melhores shows musicais da atualidade.