[texto – janeiro/2017]

Estava lendo algumas notícias de cinema para me atualizar sobre lançamentos e futuros lançamentos.  E o que vi foi o mesmo que presenciei alguns anos atrás e que foi uma das principais inspirações para eu começar o Artescétera.

Anos atrás, estava eu em algum shopping de São Paulo para ir ao cinema, mas sem saber qual filme estava em cartaz; foi aquele simplesmente “Vou ver o que está passando“. Naquela época ia pouco aos cinemas que exibem filmes mais alternativos.

No horário que fui tinham poucas opções de filmes e horários, mas dentre algumas opções estavam Carros 2, Kung Fu Panda 2, Velozes e Furiosos 5, Piratas do Caribe 4, X-Men Primeira Classe, Se Beber Não Case – Parte 2. Neste cenário, veio aquele estalo na cabeça que os filmes eram todos continuações. Não tinha um que fosse “novo”.

Lembro que desse dia em diante comecei a me atentar muito mais no que o cinema estava produzindo.

E na época (que dura até hoje) percebi que as ideias originais do cinema estavam se esgotando. O que se noticiava em sites do assunto eram, em sua maioria, remakes, continuações, adaptações de livros / HQs / live action, reboots, crossover e mais todos os sinônimos que não condizem com um filme novo e original.

Logicamente, não estou generalizando; o que não faltam são filmes originais e que são ótimos. Neste caso em específico, quando cito o cinema, cito aquele que atinge a massa, não somente blockbusters com orçamentos ultra-milionários, mas aquele filme relativamente grande, bem divulgado, que faz sucesso, é comentado pelo público e lembrado posteriormente; nos moldes que Matrix foi na época, ou Independence Day; partindo para um lado não tão megalomaníaco e blockbuster,  Beleza Americana, O Sexto Sentido; ou até partindo para uma comédia romântica como O Casamento do Meu Melhor Amigo; enfim,  filmes originais que marcaram época.

Ainda, ao navegar na internet, presencio exatamente a mesma situação: continuações, remakes, adaptações e etc; porém, a única diferença é que ultimamente os filmes de super-heróis praticamente dominam o mercado.

Tanto que se você reparar nas 20 maiores bilheterias da história do cinema, apenas Avatar, Titanic, Frozen e o primeiro Jurassic Park (que já está em 21º) não vieram de outros filmes.

Agora eu pergunto, qual foi o último grande filme original que você assistiu? Aquele que não é continuação, não veio de um livro famoso, HQ e não é um remake?

Na humilde opinião deste que vos fala, este último grande filme lançado foi A Origem, de Christopher Nolan – um pouco antes Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino.

Foram os dois últimos grandes filmes que chamaram atenção, que as pessoas comentaram (e comentarão) durante muito tempo, que foram aqueles filmes dignos da grandeza da história do cinema. Ambos diretores, por sinal, são um dos únicos que ainda conquistam grandes estúdios com ideias originais.

Voltando ao título do texto, essa originalidade é algo que me faz muita falta (acredito que não só para mim). De uns anos pra cá, os estúdios só liberam grandes verbas para produção e divulgação de filmes que sejam sucesso garantido – muito dificilmente um filme original se encaixa neste termo atualmente.

Interestelar, do Nolan, que foi um dos últimos grandes exemplos originais, partiu de uma teoria física e não de outro filme ou HQ, arrecadou uma boa grana de bilheteria mas não foi considerado aquele grande sucesso para o estúdio e, pode-se dizer, que é um filme “esquecível”.

Com certeza ainda temos bons filmes que fogem deste estereótipo, mas são filmes que nem de longe farão o mesmo sucesso e serão eternamente lembrados. Alguns são mais lembrados na época do Oscar, como o caso de Boyhood ou até do ganhador Birdman, mas será que estes filmes serão aqueles que daqui 20, 30 anos, serão lembrados como um grande filme por muita gente, não só por cinéfilos?

Agora, de quem é a culpa de tudo isso? Será dos produtores e estúdios, que dão valor apenas à estes tipos de filmes? Ou será que o público também tem grande parcela de culpa por não ir à outros filmes?

Ao meu ver, ambos são culpados – um é consequência do outro.

No Brasil, o público para filmes cults e alternativos aumentou muito de uns anos pra cá; até mesmo a procura pelo cinema nacional cresceu consideravelmente, mas o circuito alternativos se restringe apenas a algumas capitais do país.

No Estados Unidos, que é o maior mercado do mundo, a população em massa venera filmes de super-heróis, remakes, reboots, adaptações e afins. De onde eu tirei isso? Das mais e mais notícias que acompanho diariamente.

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Este texto é mais um desabafo do que uma solução, mas se fosse arriscar, seria bem complexo.

Primeiramente vem do bombardeio da mídia em cima destes filmes e, de como a população absorve somente blockbusters, ou seja, educação.

Segundo, seriam os próprios estúdios darem mais valor à divulgação de produções mais alternativas ou, até mesmo, que não são filmes tão grandiosos assim, digamos que um filme de médio orçamento.

Terceiro, agora falando no caso do Brasil, seria o governo dar mais incentivo a quem quer fazer cinema, diminuir um pouco a burocracia, entrar em acordo com grandes redes para exibirem filmes de menores expressão do cinema nacional.

E por último, também falando daqui, seria baixar consideravelmente os valores abusivos cobrados, incentivando ao público a não recorrer à pirataria.

Daria certo? Não sei, mas já seria um bom começo.

Espero que tenha gostado do texto e que dê a sua opinião sobre o assunto. É sempre importante debater estes tipos de assunto de maneira saudável e que é para o bem de todos.